Dengue
- Bruno César Vieira
- 16 de out. de 2014
- 1 min de leitura
Mai réde junto menino,
pra esse papo escutá.
É a historia de Barnabé,
um véio sin vergonha qualquê.
Mas a prosa é interessante,
vide que vista esta
das conversa do caduco Mané.
Barnabé ainda bebê
tomava leite de canudinho
de tanta mamparra que tinha
pá chupar num peitinho.
Mais tarde na escolinha,
enquanto os menino a sola gastava
de chinela havaiana no pé,
o pequeno barnabé,
só de carrinho de mão andava
e nada da bota usava.
Durmia o dia intirin'
de baixo dos angazeiro.
Di barriga pru á,
tomando garapa
e tocando pandeiro.
O mais gordo da famia,
era só falar de trampo,
que a moleza já batia.
Mas moço então crescia,
e Barnabé trabalho não tinha
e pá pága as regalia,
só se fosse de caipira.
Pique nele não havia,
e garrô numa solução
para cair em debandada.
O fito era simples,
e si mancá Barnabé ia.
A escorá parô de lavá,
e o pé esquerdo a unha cortá.
Dum lado urupé crescia
du oto a unha encravaria.
Toda vez qui seu pai ia pra roça,
Barnabé sempre mentia
que nos pés um fado tinha,
se não pra sina também ia.
Vida mansa era 'que queria,
nada de vida severina,
Barnabé doença não tinha
e ofício algum o apetecia.
Dizia até os mexeriqueiros
que seu pé parecia o de galinha,
que muito grave era,
e que solução nenhuma havia.
Inté hoje Barnabé acamado afirma,
e vive de sua aposentadoria.
Nenhum dotô sabia,
porque nenhuma doença parecia.
Mas o povo sabedoria tinha,
e isso há muito tempo atrás,
"Dengue", era o que todos diziam,
aquela moléstia sem cura,
que Barnabé tanto sufria.