Manhã de Outono
- Bruno César Vieira
- 7 de jun. de 2013
- 2 min de leitura
Tem uma coisa que todo mundo sabe, mas ninguém entende. Aquele papo sobre aproveitar as pequenas coisas da vida parece ser um grande monte de vazio sem sentido. Faz parte daquelas coisas que devem ser vividas e não explicadas.
Dizem que um bom relacionamento é feito de opostos. Ele e ela eram a prova disso. Ela era linda, e era sua. E naquele momento específico estava a resposta para todas as perguntas sobre relacionamentos das quais o garoto sempre tentava se esquivar.
Era uma manhã de sexta-feira de outono. Dizem ser a melhor época para escrever poesia. A poesia de uma manhã daquelas está escrita no sabor do café que fica no ar, na fumaça que o bule faz naquele chiado. Na abundância de luz que entra pela janela, fundindo-se com a neblina remanescente da madrugada, dando um aspecto degradê e sépia que nem nos filmes antigos. A cozinha, o centro de toda casa, estava iluminada, dando um maravilhoso bom dia às suas almas.
Ela estava com uma das suas camisetas xadrez que ele tanto gostava e uma calcinha de seda azul. Andava descalça pra lá e pra cá, pegando o pó de café da pia e passando manteiga no pão. Ela nunca foi de dar café da manhã na cama, mas o dia estava lindo, e isso inundava o coração. Coisas românticas sempre são bem-vindas, ainda mais vindo dela. Tão séria!
O amargor da noite bem dormida ainda estava na boca, mas a vontade de desencostar do batente da porta e ir escovar os dentes era completamente nula. Preferia ficar parado ali, sentindo aquele amálgama da fria brisa das árvores e o vapor com os tênues raios de sol. Uma cena a ser fotografada.
— Nossa... Você está aí desde quando? — perguntou ela, assustada ao perceber sua presença.
— Acordei há pouco... Com o cheiro de café fresquinho.
E foi aí, nesse ponto, que o garoto tentou falar para ela o que sentia naquilo tudo. Não trocaria aquela manhã por nada neste mundo.
— Déjà vu — disse ele.
— Como assim?
— Para o resto de minha vida, lembrarei.