Roupa de Domingo
- Bruno César Vieira
- 21 de ago. de 2023
- 1 min de leitura
Atualizado: 7 de fev.
01. Sempre achei que a vaidade era pecado, mas não é! Já a soberba, é um dos sete capitais mesmo.
02. Na infância meu pai sempre foi muito preocupado com minha aparência. Dizia que "gente como a gente" tinha que cortar o cabelo a cada 30 dias se não ficávamos “muito negrões”. Ele gostava que eu usasse camisa polo e sapatênis (nem é fic). Na adolescência brigamos muito por isso.
03. “Eles que me obrigam a ter essa vida. Eu não quero andar chique por ai todo dia. Me transformaram num pavão jojo!”
04. Com 22 trabalhei numa emissora grandona. Sempre ia trabalhar com camisa rasgada e a bermuda caindo. A barba começou a crescer e me chamavam de mendigo. Adorava chegar em lugares chiques e ver o tratamento mudando quando eu mostrava meu crachá. “Deem licença pro menino da tv”, eles diziam.
05. Quando acabou o estágio não remunerado de 400 anos, tínhamos que estar ali convivendo com os mesmos que nos oprimiram de “igual para igual”. E como ser aceito nessa sociedade? Uma das únicas ocasiões onde éramos tratados quase decentemente, era quando estávamos com nossa ROUPA DE DOMINGO.
Essa era a roupa que os fazendeiros compravam para nos levar à missa. Como um selo de “bom cristão”. Isso criou a crença entre os negros de que, APRESENTAÇÃO = ACEITAÇÃO.
06. “É o seu jeitão".
- Peraí branquelo! eu sou um chichê?
07. #blackaf
